domingo, 25 de abril de 2010

A árvore

Em redor de uma árvore se constrói um mundo e a árvore pacífica esse mundo. Quando existia o "campo", as gerações mediam-se pelas árvores plantadas. Agora, que há muito o abandonámos, trazemos algumas árvores e plantamo-las no centro dos jardins, a abrir um filme, a construir o terraço de um restaurante.
Já aconteceu que o futuro da arte tivesse sido anunciado através da plantação de 7000 carvalhos numa cidade. Foi em Kassel, foi Beuys quem o fez em 1982. A árvore é metáfora de muita coisa: sob o nome de macieira (na Europa) ou de mangueira em África), ela é símbolo do destino trágico que sucede a transgressão.
Mas aqui não nos interessam muito as metáforas. Interessa-nos mais o seu lado físico, a sua energia vital presente nas cidades. A árvore liga a cidade ao tempo, assinala a mudança e a sucessão de estações, ligando os homens à História. As árvores ligam os pássaros à terra quando estes pousam nos seus ramos. As árvores sossegam a pressa das cidades: em Roma são os ciprestes, em Bruxelas os castanheiros, em Viena os álamos. Para chamar a chuva pode plantar-se milhares de acácias numa cidade como Mindelo; não é magia: é a racionalidade e a ciência ao serviço da cidade e é fantástico.
A árvore assinala sempre a vida.

RIBEIRO, António Pinto, Abrigos: condições das cidades e energia da cultura, Edições Cotovia, Lisboa, 2004

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